segunda-feira, 12 de maio de 2014

o regresso da canção política


O Festival da Eurovisão, ao contrário das últimas edições, teve este ano o significado político de outrora. Voltou, em 2014, a ser palco maior do velho continente no uso da cantiga como arma. A vitória de Conchita Wurst, a drag queen em que se transforma Thomas Neuwirth, vai além da extraordinária performance e da qualidade da canção em si, independentemente das outras boas canções que poderiam ter ganho. É a afirmação do sentimento europeu de paz e de liberdade, espaço onde a verdadeira democracia só o é se abarcar toda a diversidade humana. É sobretudo a vitória de uma Europa, renascida das cinzas da Segunda Guerra Mundial, moderna, tolerante e democrática, contra a hipocrisia do preto e branco, a ditadura da normalização. É a tomada de posição contra a visão da Rússia de Putin sobre o mundo, cabeça de um regime musculado que tem incentivado a perseguição violenta de lésbicas, gays, bissexuais e trangenders (LGBT) naquele país. We're here, we're queer, get used to that.

4 comentários:

Anónimo disse...

Alguns apontamentos:

Sobre o Festival da Eurovisão em si, aquilo tem tudo de politico, até na escolha dos que são apurados para a final e dos que vencem. Também não devemos ser hipócritas ao ponto de achar que a vitória de Conchita traduz o sentimento do povo europeu.

Sobre a performance vocal do cantor(a), nada a apontar, impecável e até um justo(a) vencedor(a).

Sobre o preconceito, posso dizer que não me considero uma pessoa preconceituosa, mas achei a imagem do personagem deplorável e ridícula.

Não tenho nada contra a a afirmação da homosseuxualidade ou bissexualidade, mas aqui não se trata nem de uma coisa nem de outra. Aquilo que vi, foi alguém que nascendo homem se sente mulher, se veste como mulher e se comporta como mulher, até aí nada contra. Os transtorno de identidade de género existem e devem ser abordados com delicadeza e sem chacota, porque causam dor e sofrimento para as pessoas envolvidas.

Não tenho nada contra travestis nem contra transexuais e sou a favor de que se comportem como se sentem e caso tenham condições mudem de sexo se assim o desejarem.

O que eu não compreendo é alguém tentar passar uma imagem de homem e de mulher em simultâneo como se os dois sexos e géneros não existissem separadamente. Analisando esta atitude a frio, podemos inclusive achá-la provocatória e desrespeitosa para com homens e mulheres.

Não me parece que a excentricidade conquiste respeito e derrube preconceitos, nem acho que seja com esta forma de estar que Europa se vai comportar como um continente evoluído, moderno e vanguardista. Mas opiniões são opiniões e eu respeito quem pense de maneira diferente.

Por fim, quanto ao Putin, nem vou perder tempo a falar de políticos ditadores, até porque o problema político da Rússia vai muito além da perseguição a gays e outros trangenders, mas a vitória de conchita é certamente um sinal de que Putin estará isolado nessa sua luta, e ainda bem que assim é.

Atencioamente anónimo das 15:01h

Vítor Pimenta disse...

Caro anónimo.

Se clicar no link (texto de cor) verificará a análise dos resultados segundo a pontuação obtida pelo juri ou por votação popular. Por exemplo, com a Geórgia, recentemente amputada pela mão russa na Ossétia do Sul e Abkházia, quando se quis aliar formalmente à NATO, a votar massivamente na Áustria. O próprio Vladimir Putin tem usado a liberarização dos costumes como forma de diabolizar o Ocidente. Discurso que encaixa que nem uma luva numa sociedade fechada, normatizante e conservadora como a Russa,na enfrentar vários problemas sociais e que precisa de inventar ameaças para cimentar uma unidade interna.

Quanto à Conchita é tecnicamente uma Drag Queen, que é diferente de um travesti. Não há a assunção total do papel de género oposto, mas uma imagem mais provocadora, ambígua. É um hino à transformação. Na mesma linha, mas noutros trajes, lembre-se do Brian Molko (Placebo) ou de David Bowie, no início de carreira. O género é por si uma categorização que não representa na realidade tudo, é uma generalização. É tudo bem mais cinzento ou colorido, se preferir. Mais complicado fica se incluirmos na discussão a Identidade de Género, Papel de Género e orientação

Anónimo disse...

Caro Vítor, se houveram países a votar na Áustria de forma revanchista contra a Rússia ou contra as políticas de perseguição de Putin, que essência tem este festival no que concerne à cultura musical europeia?

É que a ver as coisas dessa forma nem se consegue entender se a vitória de Conchita foi pela qualidade da música, se a favor da tolerância para com as diferentes orientações sexuais e afins, ou se contra Putin.

Fica-se com ideia que tudo foi preparado para a Áustria ganhar como afronta à Rússia, pela pressão que existe dentro da Europa desde a anexação da Crimeia.

O que me inquieta é esta confusão na interpretação da vitória da Áustria e a tentativa de meter tudo no mesmo saco, porque como disse, no que respeita à qualidade vocal e musical de Conchita, a sua vitória não me surpreende, mas também duvido que traduza uma opinião maioritariamente europeia, até porque a eurovisão não é tão participativa ao ponto de espelhar a opinião da sociedade europeia no geral.

Sobre a Conchita em si e a comparação que faz com Molko ou Bowie, podíamos acrescentar muitos mais como Ney Matogrosso, Fredie Mercury ou António Variações...

Há porém uma grande diferença, que diz respeito ao contexto da representação. É que esses artistas actuam por conta própria para os seus fãs e representam-se a si próprios, num contexto de espectáculo que é seu e do seu público e que a eles diz respeito. Para além de que fora desses contextso habitualmente se dão pelo mesmo nome que são chamados e se comportam respeitando o género a que pertencem ainda que se sintam ou mostrem uma atitude mais masculina ou feminina.

Já Conchita foi representar uma nação europeia num festival de música de nações europeias. Adoptou sempre um comportamento e uma imagem profundamente feminina, incluindo a mudança de nome, mas infelizmente procurou chocar e provocar ao usar um símbolo de masculinidade, a barba.

Desculpe mas não vejo outra razão que não a provocação ou a excentricidade para esta opção, que nada abona a favor da tolerância para com drag queens, drag king´s, travestis, transexuais...

Sobre os géneros, não consigo entendê-los nessa perspectiva de categorização a que se refere. Quem categoriza é o homem não a natureza. O género Mulher e o género Homem são diferentes na sua natureza, na biologia, na sua forma de sentir, de se emocionar e até de se socializar e por isso devem ser respeitados individualmente.

Da mesma forma, homosseuxuais, bissexuais, heterossexuais... o são, não por uma questão de categorização, mas também por uma questão da natureza dos seus sentimentos e emoções.

Anónimo disse...

Eu acho é que o Hitler deve ter sofrido um AVC lá nas profundezas do inferno onde mora...Quanto ao resto, posso afirmar que já vi uma mulher tão barbuda quanto a Conchita. Foi há muito tempo, em Vilar de Perdizes, numa Queimada patrocinada pelo Padre Fontes.